
Depois de ensinar a respeito dos dons espirituais em 1 Coríntios 12, Paulo declara: “E eu passo a mostrar-vos ainda um caminho sobremodo excelente” (v. 31). Esta é uma sentença de transição. Embora os dons espirituais sejam absolutamente essenciais à igreja, o caminho sobremodo excelente para sua utilização é o amor. Assim, o amor é apresentado, neste texto, não como um dom, mas como um caminho. Alguns coríntios achavam que os possuidores de certos dons eram pessoas extremamente importantes. Mas Paulo afirma que, mesmo que eles tivessem os mais altos dons, e ao máximo, se lhes faltasse amor, não só seriam insignificantes, mas, na verdade, seriam nada (1Co 13:1-2). Podemos ter sucesso, obter bons resultados, ser admirados, apreciados e aplaudidos, mas, sob o ponto de vista de Deus e da eternidade, se nos faltar amor, nada somos. Seremos apenas uma versão moderna do profeta Jonas. Jamais um pregador teve um sucesso imediato tão grande como Jonas. Toda uma grande cidade se converteu. E, contudo, Jonas não amava nenhuma daquelas pessoas. Sua aparente obediência e seu sucesso não brotaram do amor (Jn 3:4–4:3).
Paulo ainda diz: “E ainda que eu distribua todos os meus bens entre os pobres e ainda que entregue o meu próprio corpo para ser queimado, se não tiver amor, nada disso me aproveitará” (1Co 13:3). Estes dois atos de sacrifício pessoal parecem se aproximar muito do amor prático mais puro e altruísta. Mas “é possível fazer coisas boas para os outros sem os amar, fazer o bem movido por outro motivo que não seja o amor”.5 Pode haver generosidade sem amor. Autodoação sem amor, que busca o louvor, é autopromoção. A pessoa pode dar mais do que as suas propriedades: pode dar a própria vida. Podemos entregar-nos completamente a um ideal, sem contudo fazê-lo por amor. “Dar o próprio corpo por amor é um ato heroico. Mas dar o próprio corpo por amor próprio é um ato de egoísmo”.6 Tais sacrifícios sem amor se perdem. Se o amor é tão necessário, precisamos saber o que ele é. Os versos 4 a 7 retratam o que o amor é, o que o amor não é, e o que o amor é capaz de realizar. Paulo usa verbos que estão todos no presente contínuo, indicando ações e atitudes que se tornam habituais, gradualmente incorporadas através de repetição.
O amor é paciente, tolerante, tardio em irar-se, longânimo. É benigno. Benignidade é parte do fruto do Espírito. É cortesia, gentileza, doçura de temperamento. O amor não arde em ciúmes ou inveja. “O amor não se aborrece com o sucesso dos outros”.7 Não se ufana. Não se vangloria. Não se gaba de suas virtudes, conhecimento e realizações. Não se ensoberbece. “Há muitas maneiras de se mostrar orgulho, e o amor é incompatível com todas elas. O amor se preocupa em doar-se, e não em afirmar-se”.8 O amor é humilde. Mas não confunda humildade com pobreza, ignorância ou timidez. Aprenda a ser humilde com Jesus. Ele disse: “Vinde... e aprendei de Mim, que sou manso e humilde de coração” (Mt 11:29).
O amor não se conduz inconvenientemente, com arrogância, com soberba. Não se porta de modo vergonhoso, desonroso, indecente. O amor não é rude porque isso fere os outros. Não se porta com grosseria (BLH). O amor tem uma delicadeza que não deseja ferir. Quando percebemos que nosso comportamento ou nossas atitudes estão prejudicando ou magoando alguém, o amor nos impele a eliminar essas trevas internas através da graça do Senhor. O amor não procura seus interesses, antes emprega a renúncia própria. “Insiste no bem-estar dos outros e não na afirmação de interesses próprios”9 (ver 1Co 10:24). O amor não se exaspera, não é mesquinho. Não é difícil conviver com ele. Não irrita nem provoca os outros. “Não torna a vida dos que o rodeiam miserável, por ter um temperamento nervoso”.10 Não tem má vontade, não é explosivo nem brigão; não se ressente do mal. O amor não imputa o mal. Não acumula ódio dos outros nem guarda queixas. “Quem ama não... guarda mágoas” (BLH).
Se realmente amarmos alguém com o amor do Senhor, veremos muito mais sua força e seu potencial, em lugar de seus defeitos e fraquezas. Quando ele fizer alguma coisa, irritando-nos, seremos capazes de tratá-lo dentro do contexto do que ele é em Cristo, em vez de aumentar o que aconteceu, a ponto de monopolizar nossa atenção. A palavra “ressentir-se” significa manter sob registro. Assim, o amor não mantém o registro das coisas ditas ou feitas contra nós. Ele perdoa.
O amor não se alegra com a injustiça, mas se regozija com a verdade. “O amor não se alegra com o mal de nenhuma espécie”.11 Não apoia a injustiça fora ou dentro da igreja. Nem é indiferente quanto a ela.
Não chama o errado de correto. Quando você for tentado a ser omisso diante de uma injustiça, por medo de “ser queimado”, lembre que “um barco está a salvo em um cais, mas não foi para isso que os barcos foram feitos”. Tome posição contra a injustiça, da maneira certa, no momento certo, no lugar certo, diante da pessoa certa. Também há o perigo de nos alegrarmos não com o que é bom e verdadeiro, mas com o que é obscuro e sórdido.
Alguns encontram um falso alívio quando veem os outros fracassando e caindo. Mas o amor anseia ver os outros em pé, crescendo e se entristece quando outra pessoa é derrotada. Alegra-se com os que se alegram e chora com os que choram. Não se entrega a fofocas e cobre uma multidão de pecados. O amor tudo sofre, tudo suporta. Como disse a Madre Tereza de Calcutá: “O amor dói”. “O amor não recua facilmente; aguenta”.12 Não com paciência resignada, mas com fortaleza positiva. Não se deixa vencer. Ele sobrevive à tristeza, à decepção, à crueldade, à indiferença. Continua avançando. Jamais vacila e não desiste.
O amor tudo crê, tudo espera. “Tem uma atitude de confiança para com os outros... Ele prefere crer nas boas intenções dos outros... prefere ser generoso demais a ser desconfiado demais”.13 Leva em conta as circunstâncias e vê nos outros o melhor. O amor retém sua fé. “Está sempre disposto a conceder o benefício da dúvida”.14
Recusa-se a aceitar o fracasso como final.15 Todo fracasso é apenas uma derrota temporária. Com confiança, ele olha para a vitória final pela graça de Deus. No meio de toda a maldade, ele sabe esperar, por causa das promessas de Deus. O amor, esse amor acima descrito, jamais acaba. Aconteça o que acontecer, suportamos firmes porque em tudo há um propósito: Deus está esculpindo em nós a imagem de Seu Filho.
Alguém sugeriu que lêssemos 1 Coríntios 13:4-7 retirando a palavra amor e em seu lugar colocando o nome de Jesus. Leia desse modo. O que você acha? Perfeito! Jesus é a personificação do amor. Agora, leia de novo o mesmo texto e coloque nele seu nome. E então? Esse é o sonho de Jesus para a sua vida. Se você consentir, Ele operará de tal modo em seu coração que um dia você poderá ler este texto, sozinho, e dizer para si mesmo: “Como eu era tão diferente do que aqui está retratado; mas agora, já estou bem parecido”.
Ao introduzir o tema do amor, Paulo o chama de caminho excelente (1Co 12:31). Agora, ao encerrar, ele faz o apelo para seguirmos nesse caminho: “Segui o amor” (1Co 14:1). A ideia é a de ir após, com persistência. Indica uma ação que nunca termina. Seguir o caminho do amor é seguir a natureza do próprio Deus. Nunca devemos cessar de fazer do amor a obra de nossa vida.
Também devemos lembrar que esse amor precisa ser recebido e que ele só é dado aos que se entregam a Deus16. Através de Seu Espírito, que é a fonte dos dons e também a fonte do amor (Rm 5:5), Ele ajuda o homem a demonstrar pelo próximo o mesmo tipo de amor que Ele demonstrou para todos os homens.